quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

LAQUES, por Platão

Boa madrugada! 
Como não poderia deixar de ser, tive que passar por cá antes de me submeter ao sono, desta vez com um diálogo de Platão, pois já não lia há muito tempo (desde... o "Ménon" em Novembro?), "Laques", desta vez e não posso deixar de fazer um reparo à edição. Efectivamente, foi com um livro desta colecção de volumes que comecei este blogue em Maio do ano passado ("Apologia de Sócrates", se me recordo) e a modos que foi um pouco... nostálgico... actualizar com um livro de uma colecção que não pensava adquirir mais apesar de ter uma qualidade excepcional (afianço que, para quem procura literatura clássica em bons livros, para mim esta é uma das duas editoras que aconselharia; a outra é das edições da Fundação Calouste Gulbenkian, mas isto é uma questão de opinião). Outra coisa de notar é o pormenor de todas as capas terem a sombra de uma árvore. Se considerarmos que, de facto, uma capa pode dizer o que um livro não diz, poderemos pensar que é uma alegoria (como se o legado clássico se assemelhasse a uma árvore centenária que continua a crescer?). Mas já estou a dispersar.
O tema deste livro... de facto é difícil de esclarecer o tema. Aparentando ser um diálogo sobre a boa educação dos filhos por ligação de ideias passa para a coragem, assistimos a uma longa discussão entre dois intervenientes pelo meio (Nícias e Lisímaco), o que é algo que eu nunca tinha visto nos diálogos que li, uma discussão agressiva explícita e no fim termina em aberto... contudo a estrutura argumentativa baseada na lógica mantém-se. Noto, contudo, duas coisas: a primeira é a defesa de Sócrates em que as questões não devem ser decidias pela maioria, mas sim pela validade da cabeça (que não é pelo número de cabeças que se devem tomar decisões e que uma cabeça pode valer por muitas). Isto aparentemente parece contraditório, mas como poderia sair tal coisa de alguém oriundo do berço da democracia, mas o facto é que a democracia, no verdade, tinha um significado nocivo para os atenienses; estes eram a favor da República e não da Democracia (Aristóteles no seu "Tratado da Política", já apresentado anteriormente, esclarece muito bem a diferença). A segunda é a persistência de Nícias em que Sócrates deveria ser mestre dos jovens... ora foi precisamente este um dos motivos que o levaria à sua condenação, o de, segundo o tribunal, ensinar maus caminhos aos jovens e, tendo em conta que estes diálogos me parecem ser escritos depois da morte de Sócrates, penso se não seria um ataque da parte de Platão como forma de denúncia dos juízes (aliás, já seria a segunda vez que o faria). 
Seja como for, deixo-vos com mais um diálogo (dos meus preferidos agora). É necessário que a árvore clássica cresça e, seguramente, continuará a fazê-lo... e, também seguramente, continuará a dar ramos para o pensamento póstumo, o que prova o seu valor inegável.
Juntos contra a desflorestação das ideias, a todos uma boa continuação de semana e boas leituras!

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