sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A ENEIDA, por Virgílio

E eis chegada a hora de uma leitura tão ousada como quem se digna a ler os diálogos de Platão e que um dos maiores legados poéticos da Humanidade. "A Eneida" é um poema épico/ epopeia escrito por Virgílio, poeta romano e que, tal como o nome indica, conta a história de Eneias, ancestral de todos os romanos, que se salvou da guerra de Tróia, junto com o seu pai Anquises e o filho Ascânio. A versão que eu li foi a dos livros de bolso Europa-América que, com o seu objectivo de tornar o livro "transportável" (se me for permitido usar este termo) reduziu o verso branco (uma consequência da maioria das traduções para outros idiomas) a parágrafos ainda que, claro está, se notem preciosismos poéticos na estrutura das frases, dando a entender que são versos compactados. Concluo que o poema não foi afectado, o que torna esta compactação em texto narrativo nalgo pouco grave.
Note-se, contudo, muitas semelhanças do enredo d'"A Eneida" com "A Odisseia" de Homero. Efectivamente, ambas têm como elemento polarizador a guerra de Tróia, tanto como Odisseu como Eneias empreendem uma viagem naval, ambos desembarcam numa ilha e mantêm uma relação com uma mulher, Odisseu com Circe e Eneias com Dido, ambos descem ao Hades, etc. Coincidência? Uma vez que não sei onde acaba o mito original e começa a arte literária parece-me impossível dizer, é tão possível como impossível que vários aspectos sejam coincidência mas o facto é que talvez uma razão de teor político esta na base destas semelhanças. De facto, "A Eneida" foi encomendada a Virgílio pelo Imperador Augusto com o objectivo de enaltecer a civilização romana. Virgílio, então, compromete-se a criar um poema épico ainda maior que "A Odisseia" (obviamente no sentido qualitativo, porque a nível de extensão tem metade dos capítulos) e, dessa forma, suplantar o próprio Homero. É sabido também que Virgílio em consciência soube não ter sido capaz de o conseguir fazer. Já concluído o poema épico e às portas da morte, conta-se que Virgílio teria pedido aos seus companheiros que queimassem a obra por ter ficado "imperfeita". Agradeçamos por não o terem feito, já que só assim foi possível que chegasse até nós uma das grandes obras de um dos maiores génios da Humanidade.

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