quinta-feira, 30 de junho de 2011

DO RISO E DA LOUCURA, por Hipócrates

Hoje apresento uma obra simplesmente hilariante e que muito gozo me deu ler. O autor é Hipócrates, considerado por muitos o pai da medicina, sendo uma das suas citações mais famosas a definição do cérebro humano como " fonte do nosso prazer, alegria, riso e diversão, assim como do nosso pesar, dor, ansiedade e lágrimas. É especificamente o órgão que nos habilita a pensar, ver e ouvir, a distinguir o feio do belo, o mau do bom, o prazer do desprazer. É o cérebro também que é a sede da loucura e do delírio, dos medos e sustos que nos tomam, muitas vezes à noite, mas às vezes também de dia; é onde jaz a causa da insónia e do sonambulismo, dos pensamentos que não ocorrerão, deveres esquecidos e excentricidades". Esta afirmação contrariou a crença da altura, que era a de que todas estas faculdades pertenciam à alma, sendo que esta se encontraria na medula. 
Tudo começou com uma carta dom povo de Abdera a Hipócrates relatando o aparente estado de loucura do seu grande sábio, Demócrito; com isto preocupavam-se os abderitas pois a grandeza da cidade residia no facto de ser pátria de um dos homens mais sábios da altura. Manchada a reputação do sábio também se mancharia a da cidade. Acontecia que Demócrito se encontrava num estado de riso compulsivo: tudo servia de motivo para o seu riso, tanto as coisas boas como as más e o riso perante o infortúnio, ou mostraria pobreza de espírito, ou loucura e nada mais fazia senão rir. Hipócrates respondeu com a resposta de que procuraria procurar a causa da loucura de Demócrito e curá-la; contudo, não aceitou qualquer tipo de pagamento, afirmando que "aqueles que recebem pagamento, subjugando as ciências aos seus interesses, privando-as da sua antiga liberdade, parecem reduzi-las à escravatura; são bem capazes de mentir, exagerando a importância da doença. ou de negar a sua gravidade, de não comparecer, tendo assegurado a sua presença e de não vir ainda que tenham sido chamados." Mais tarde escreveu a Filopemen, agradecendo a sua hospitalidade em Abdera e apressa-se também a escrever a seu amigo Dionísio pedindo-lhe que cuide dos seus bens e da sua esposa enquanto estiver fora. Uma vez em Abdera, Hipócrates tem um sonho durante a noite: nele vê uma mulher muito elegante que o conduz até à cidade onde desaparece, dando lugar a outra mulher ainda mais bela mas com menos juízo. Hipócrates, numa análise feita ao seu sonho, conclui que a primeira mulher era a Verdade e a segunda a Opinião, que a Verdade era o que ele iria descobrir e a Opinião era o senso comum dos abderitas desprovido de qualquer teor científico. Assim, no dia seguinte, dirigiu-se à habitação de Demócrito: uma casa no cimo de uma colina e não muito grande. Demócrito encontrava-se debaixo de umas árvores; a seus pés tinha vários animais esventrados e, ante as expressões de tristeza e de horror dos abderitas que conduziram Hipócrates, o sábio desatou a rir às gargalhadas. O que se segue é um diálogo entre o médico e o filósofo no qual Hipócrates tentará apurar a razão da aparente loucura de Demócrito chegando, no fim, à conclusão de que o riso e a loucura não se encontram tão ligados como parecia...

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